Como eu conheci a NipponFlex
A vida é um negócio engraçado. Minha namorada na época estava muito interessada em palestras motivacionais, o chamado coaching, onde alguém te convence que os seus problemas são causados pela sua postura perante a vida e faz você acreditar que é o super-homem (ou a mulher-maravilha).Nesse contexto, uma amiga dela a convidou para uma palestra sobre um "homem que conseguiu sair da extrema pobreza e se tornar um homem de sucesso". Sem mais detalhes.
Por tabela, eu fui, animado com a perspectiva de uma palestra inspiradora ou mesmo com dicas de negócio (e dar um apoio, claro). Chegando lá, um prédio bonito, com um salão cheio de cadeiras para receber os convidados; comecei a ficar desconfiado: por que estavam anotando quem veio à palestra assim como "quem chamou"? Quem chamasse mais gente ganhava algo?
Após bicar um café mediano no hall de entrada e sentar com a namorada, a amiga dela e a mãe da amiga dela nas cadeiras dispostas no salão, começava a palestra. Pessoas muito bem vestidas na bancada, terno sob medida, coisa fina.
O palestrante, um homem em seus 50 anos, simpático, começava a sua história. Ele se apresentou como o presidente da NipponFlex. Os primeiros 10 ou 15 minutos da palestra, tivemos esse senhor bem vestido falando o quanto era pobre em sua juventude. Todas as anedotas da pobreza foram contadas ali. Seu objetivo era criar empatia conosco. Após a história triste, o mesmo senhor fala que "tudo que ele precisava era de um bom produto" para subir na vida, para vender e crescer, e que os produtos NipponFlex eram esse produto.
Espetáculo
Nessa hora, começou a magia do cinema. Apresentação dos produtos, do quanto eles eram inovadores, quase mágicos, com falácias como "depois que fulaninho começou a usar nossos produtos, ficou curado de X, Y, Z", onde X, Y, Z é uma doença incurável. Uma hora, ele perguntou "quem está com dor aí, qualquer dor", e passou um paninho ultratecnológico que prometia curar essa dor (qualquer dor!!!). A plateia estava em extase! Eu estava puto. Havia sido levado a uma palestra para ser "clientizado" contra minha vontade.E ele falava das patentes, e falava da origem do produto e começava a identificar vendedores de sucesso na plateia, e pedia depoimentos do vendedor obeso que, no lugar de fazer uma dieta, dormia no tal colchão e não sentia mais os efeitos nocivos de seu peso, do vendedor que costumava encher a cara de cachaça no fim de semana e não conseguia acordar bem 8-9h da manhã de segunda-feira e agora conseguia...
Como Ganhar (o seu!) Dinheiro
Nisso, começava a explicação do plano de negócios. Primeiramente, o palestrante explicava que o seu negócio não era um negócio pirâmide. Na sequência, eramos elucidades do porquê estavamos lá:Cada pessoa que compra um produto da NipponFlex era convidado a trazer 10 amigos essas palestras que tem o objetivo de angariar novos clientes. A pessoa que traz os clientes, que eles sugerem que sejam amigos ou parentes, recebe uma porcentagem em cada venda, e se conseguir 10 vendas, ele pode começar a vender os produtos da NipponFlex. E não para por aí, a pessoa que indica o cliente participa do processo de apresentação e venda dos produtos com o pretexto de estar sendo "treinado" no processo. O motivo não é para pressionar o "possível cliente" psicologicamente, por conta do laço afetivo, não é...
Nesse momento, eu já queria me retirar da palestra. Aquela falácia já me afogava, mas meu sofrimento estava longe de seu fim. Foi nessa hora que começaram os depoimentos dos melhores vendedores. Um senhor baixinho, magro, com um terno feito sob medida e um relógio banhado a ouro (a ostentação deve ter sido proposital) ia ao microfone, falar o como foi seu começo, como precisou pedir dinheiro emprestado para comprar o seu primeiro produto NipponFlex para iniciar sua carreira como vendedor de colchões e acessórios. Veja a importância estratégica desta história, mostrar que o sacrifício para comprar um produto NipponFlex vale a pena, compensa...
Por coincidência, esse foi o vendedor que vendeu o colchão da amiga de minha namorada, o cara que viria, junto à amiga dela, convencê-la a comprar um colchão de 10 mil reais nos dias seguintes...
O ardiu que senti dele naquele dia foi grande. Em todo caso, findava a palestra. Infelizmente, a tortura não acabava ali. O vendedor agora ia conhecer
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O resto é história. Deixo esta postagem como um informativo para você que for convidado a conhecer o produto ou ir nessas palestras.